sexta-feira, 1 de novembro de 2013



O artigo de Zaneti e Mourão faz uma breve análise do conceito de gestão de resíduos sólidos, citando como referências as iniciativas implementadas em algumas capitais brasileiras, como Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e Brasília sem, no entanto, se aprofundar nos detalhes dessas iniciativas.

O texto começa com uma contextualização da questão ambiental frente ao desenvolvimento econômico. Faz uma crítica ao Capitalismo em sua mais nova versão:o Neoliberalismo e de certo modo, responsabiliza as indústrias e os empresários, com sua ânsia pelo lucro, pela “crescente ameaça de colapso ambiental e de esgotamento de recursos”. 

Em seguida, no item 2, as autoras dissertam sobre a responsabilidade do Estado na regulação do uso adequado do solo e dos recursos naturais, passando pela Política Nacional de resíduos sólidos e.

Somente no item 3 o artigo começa a abordar o papel do cidadão na gestão adequada dos resíduos domiciliares. Nesta seção, se aborda a relação entre a comunidade organizada e o Poder Público e insere o tema da influência da Educação Ambiental sobre a mudança de comportamento necessária para a sobrevivência da nossa sociedade.

No capítulo 4 se faz uma breve discussão sobre a evolução da Educação ambiental ao longo dos últimos 30 anos, desde a Conferência de Tibsili, em 1977 até a Agenda 21, concluída em julho de 2002. O tema continua em evidência na seção 5, onde se faz uma análise da importância do conceito dos três “R” (Reduzir, Reutilizar, Reciclar), em sua devida hierarquia e como, sob o ponto de vista das autoras, essa hierarquia hoje não é respeitada, pois a reciclagem acaba por ter maior destaque que o conceito de redução na fonte e reutilização de materiais.
As autoras acreditam que essa inversão no conceito se dá devido a interesses individuais e econômicos, pois a reciclagem e a reutilização são mais atrativas aos produtores que a redução do consumo.Infelizmente, o modelo econômico atual não vê benefício no conceito de redução de consumo. Por outro lado, a reciclagem pode gerar lucro, enquanto que a reutilização reduz os custos de produção, o que acaba se transformando também em lucratividade.


No capítulo 6 as autoras fazem uma crítica ao modelo atual de consumo no Brasil. Nesta seção, é questionada a atuação do Estado que não cria Políticas Públicas eficazes que promovam a mudança de comportamento das empresas e do cidadão comum. Criticas são feitas as empresas, que produzem embalagens que não podem ser recicladas; ao cidadão comum que as consome e a relação desigual que se criou entre os diversos atores do processo de reciclagem, desde o cidadão com seus “maus” hábitos de consumo, passando pelo catador, que é um excluído do processo, ficando com a menor fatia dos lucros e chegando ao empresário que, ao menos sob o ponto de vista das autoras, é quem de fato se favorece com esse processo.

Finalmente, no item 7, as autoras propõe alternativas para uma efetiva gestão integrada dos resíduos, definindo responsabilidades mais claras para o Poder Público, empresas e cidadãos.  Elas propõem que seja promovida uma real mudança de hábitos na sociedade, no que diz respeito à produção e ao consumo, com responsabilização das empresas quanto ao resíduo gerado a partir de suas embalagens e do lixo que é produzido na extração dos recursos naturais. Sugerem que o Poder Público deve tomar a iniciativa para promover essa gestão participativa e cita como exemplo de sucesso as práticas realizadas na cidade de Curitiba, onde se pode observar a “participação de associações de bairro, compra/troca de lixo por produtos verdes, participação das escolas”e de Belo Horizonte  na “organização dos carroceiros como autônomos para a coleta nas ruas, acompanhamento dos centros de triagem por equipes de educadores, campanhas públicas de informação nas ruas e nos meios de comunicação

O artigo é concluído reforçando que devem ser definidas as metas para a gestão integrada dos resíduos e que deve haver integração, comunicação plena, troca de informações e diálogo entre todos os níveis da Sociedade. Segundo o artigo, os resultados só poderão ser alcançadas por meio deuma real mudança de comportamento da Sociedade, o que envolve um novo estilo de vida e padrões de consumo. Isso só será possível com a participação efetiva do Estado, das empresas e dos cidadãos.

Refletindo sobre o artigo consideramos que ele explora pouco a questão da Educação Ambiental e se fixa mais nas responsabilidades dos diversos níveis da Sociedade, a começar pelo Poder Público que deveria ser o promotor do consumo sustentável, conforme as autoras.

Com base no título do artigo era esperado um texto que abordasse de forma mais objetiva como a Educação pode mudar o cenário atual. Ao invés disso, verificamos que as autoras concentraram a atenção no papel a ser exercido por cada ator da Sociedade. Elas foram bastante coerentes em sua argumentação sobre o Papel do Estado. Fizeram uma crítica explícita ao modelo atual de consumo e a responsabilidade dos empresários sobre ele, mas passaram de leve sobre a responsabilidade do consumidor final, dando a entender que este é uma vítima do modelo imposto pelo modo de produção.

Sob o ponto de vista da nossa equipe, existe atualmente uma carência muito grande de entendimento dos conceitos de sustentabilidade e consumo consciente e não se pode atribuir isso somente ao papel do empresário e seu modo de produção capitalista. A ignorância da população vai muito além disso, e por ignorância não tratamos somente daqueles que a tem por falta de instrução. Tratamos muito mais daqueles que com instrução e poder de consumo, degradam muito mais que aqueles que estão destituídos do poder de compra.

Atrevemo-nos a dizer que os mais pobres, principalmente aqueles que se dedicam a atividade de catador, tem maior consciência ambiental que muitos cidadãos abastados. Haja vista o nosso padrão de consumo, o exagero de embalagens que jogamos fora todos os dias, a mistura que fazemos no resíduo que deveria ser reciclado e as escolhas infelizes que fazemos todos os dias. Exemplos:

  • ·        Quantas vezes preferimos comprar vegetais embalados em bandeja de isopor quando poderíamos escolher aqueles que estão avulsos?
  • ·        Quantas vezes o saco que embala as compras é rasgado e vira resíduo mal tiramos as compras do carro?
  • ·        Quantas vezes o resíduo reciclável é misturado ao lixo ordinário por pura preguiça de se procurar um local adequado para destiná-lo?
  • ·        Quantas vezes estragamos um container inteiro de resíduo reciclável por jogar ali dentro detritos que contaminam o material?
  • ·        E a latinha de cerveja jogada pela janela do carro?
  • ·        E a garrafinha de água atirada pela janela do ônibus?
  • Seria tudo isso culpa do neoliberalismo?Podemos culpar o empresário por toda a nossa falta de educação? Será tudo culpa do Governo corrupto?


A seqüência de fotos abaixo, retiradas no dia 15 de setembro, em Vilas do Atlântico – bairro de maior renda per capita da cidade de Lauro de Freitas - expõe um pouco da falta de educação de cidadãos instruídos, bem remunerados e com alto poder de consumo.

Mostram também a falta de integração entre as iniciativas do Poder Público – que disponibilizou os containeres de resíduo reciclável – e os catadores de latinhas – esses atores invisíveis que deveriam ser os maiores beneficiados desse processo, caso a intenção fosse mesmo a de promover o desenvolvimento social e humano dessas pessoas.

A iniciativa – o lado bom:
Foram disponibilizados containeres identificados por tipo de resíduo pelas ruas do bairro e em um dos maiores Supermercados da cidade.
Os contentores são de material reciclado e possuem trancas para evitar arrombamentos. São devidamente identificados. Em seu interior há caixas que acomodam os resíduos secos. A idéia original era que cooperativas credenciadas, que possuem as chaves das trancas, seriam autorizadas a coletar os resíduos ali armazenados.


As falhas no processo:
·        Não houve um diálogo efetivo com os envolvidos: cidadãos, empresários, catadores independentes e cooperativas.
·        Os catadores independentes não foram incluídos no programa e logo começaram a depredar os contentores. Primeiro, arrancando as identificações. Em seguida, arrombando para retirar os resíduos. Eles ficam à espreita esperando que os cidadãos terminem de colocar os resíduos e em seguida abrem as trancas e retiram tudo, deixando a área bastante bagunçada ao final do serviço.
·        Os cidadãos parecem não ter compreendido bem a finalidade dos contentores e tendem a misturar os resíduos, mesmo naqueles que ainda estão com as identificações visíveis.
·        Por preguiça ou às vezes, pelos contentores já estarem cheios, vários resíduos ficam do lado de fora, aumentando o aspecto de desorganização.
·        Em alguns casos são observados depósitos de resíduos recicláveis sujos ou mistura com resíduo orgânico comum.






 















Concordamos com as autoras que a Educação Ambiental é importante para que haja uma mudança na nossa cultura de consumo e de disposição dos nossos resíduos. Entretanto, discordamos quando elas superdimensionam a responsabilidade do Estado e das empresas, enquanto dão pouca relevância ao papel do cidadão.

Acreditamos que as fotos acima representam vários aspectos positivos, tais como:
·        A iniciativa da prefeitura foi positiva e é possível ver os contentores em vários locais bem visíveis, de fácil acesso e onde há boa circulação de pessoas.
·        Existe boa vontade por parte da população em levar seus resíduos para os contentores. Podemos ver vários cidadãos se deslocando de suas casas para levar seus recicláveis.
Por outro lado, as falhas de comunicação, a exclusão dos catadores de rua desse processo e a falta de manutenção e fiscalização acabaram por comprometer o resultado final. Quando os contentores foram instalados eles embelezaram a cidade. Atualmente, algumas pessoas já demonstram nojo em se aproximar, devido a sujeira que encontramos nas proximidades, causada não só pelos catadores como também por pessoas ignorantes que levam resíduos orgânicos para o local. Tivemos sorte neste dia de não encontrar contentores tão contaminados, mas já foi possível verificar até mesmo carcaça de animais nesses locais.

Conclui-se que é necessário investir pesado na educação, incluindo medidas punitivas para o cidadão que joga resíduo no chão ou que contamina intencionalmente os tambores de recicláveis. Ao mesmo tempo, é necessário que se desenvolva uma política séria de inclusão dos catadores. Não adianta fingir que eles não existem. Eles são atores fundamentais do processo e se existem é porque alguém se beneficia do trabalho deles. Esse “alguém” deveria se responsabilizar por eles e prover meios para que seu trabalho seja desenvolvido de forma digna. Não é decente ver seres humanos revirando lixo em busca de comida e de meios de sobrevivência. Não é possível continuarmos ignorando essa realidade.

Por fim, a escolha correta dos nossos representantes, via eleições, e a cobrança das promessas de campanha deve fazer parte da rotina dos cidadãos, bem como o cumprimento dos nossos deveres. Isso inclui repensar nosso modo de consumo, reduzir o volume de lixo gerado e dispor adequadamente os resíduos recicláveis. Essa será a nossa contribuição para a construção de uma Sociedade realmente sustentável.

Referência
ZANETI, Izabel Cristina Bruno Bacellar; SÁ, Laís Mourão
“A educação ambiental como instrumento de mudança na concepção de gestão dos resíduos sólidos domiciliares e na preservação do meio ambiente”.
Artigo apresentado no I ENCONTRO ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM AMBIENTE E SOCIEDADE, Indaiatuba, novembro, 2002.


TURMA SPC-N-EQ UNIFACS 2013





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